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sábado, 4 de janeiro de 2014

Livros sobre a Umbanda


Tambores de Angola

 
 

Aruanda

 

Negro

 

Magos Negros

 
 

Oração aos orixás

 

Que a irreverência e o desprendimento de Exú nos animem a não encarar as coisas de forma como elas parecem á primeira vista e sim que nós aprendemos que tudo na vida, por pior que seja, terá sempre o seu lado bom e proveitoso! LARO YÊ EXU!!
 
Que a tenacidade de Ogum nos inspire a viver com determinação, sem que nos intimide com pedras, espinhos e trevas. Sua espada e sua lança, desobstruam nosso caminho e seu escudo nos defenda! OGUM YÊ meu Pai!
 
Que ao labor de Oxossi nos estimule a conquistar sucesso e fartura á custa de nosso próprio esforço. Que suas flechas caiam á nossa frente, á nossas costas, á nossa direita e á nossa esquerda, cercando-nos para que nenhum mal nos atinja. OKÊ ARÔ ODE!!
Que as folhas de Ossanhe forneçam o bálsamo revitalizante que restaure nossas energias, mantendo nossa mente sã e corpo são. EWE OSSANHE!
 
Que Oxum nos dê a serenidade para agir de forma consciente e equilibrada. Tal como suas águas doces -que seguem desbravadoras no curso de um rio, entrecortando pedras e se precipitando numa cachoeira, sem parar nem ter como voltar atrás, apenas seguindo para encontrar o mar assim seja que nós possamos lutar por um objetivo sem arrependimentos. ORA YEYÊO OXUM!!!
 
Que o arco íris de Oxumaré transporte para o infinito nossas orações, sonhos e anseios, e que nos traga as respostas divinas, de acordo com nossos merecimentos. ARROBOBO OXUMARÉ!!
 
Que os raios de Iansã alumiem nosso caminho e o turbilhão de seus ventos leve para longe de nós aqueles que se aproximam com o intuito de se aproveitarem de nossas fraquezas. EPA HEY OYÁ!
 
Que as pedreiras de Xangô sejam a consolidação da lei divina em nosso coração. Seu machado pese sobre nossas cabeças agindo na consciência, e sua balança nos incuta o bom senso. CAÔ CABELECILE!
 
Que as ondas de Iemanjá nos descarreguem, levando para as profundezas do mar sagrado as aflições do dia-a-dia, dando-nos a oportunidade de sepultar definitivamente aquilo que nos causa dor, e que seu seio materno nos acolha e nos console. ODOYÁ,IEMANJÁ!
 
Que as cabaças de Obaluaiê tragam não só a cura de nossas mazelas corporais, como também ajudem nosso espírito a se despojar das vicissitudes. ATOTÔ OBALUAIÊ!
 
Que a sabedoria de Nanã nos dê uma outra perspectiva de vida, mostrando que, cada nova existência que temos, seja aqui na terra ou em outros mundos, gera a bagagem que nos dá meios para atingir a evolução, e não uma forma de punição sem fim como julgam os insensatos. SALUBA NANÃ!
 
Que a vitalidade dos Ibejis nos estimule a enfrentar os dissabores como aprendizado; que nós não percamos a pureza mesmo que, ao nosso redor, a tentação nos envolva. Que a inocência não signifique fraqueza, mas sim, refinamento moral! ONI DI BEIJADA!!
Que a paz de Oxalá renove nossas esperanças de que, depois de erros e acertos; tristezas e alegrias; derrotas e vitórias; chegaremos ao nosso objetivo mais nobre, aos pés de Zambi Maior! EPA BABÁ Grande Pai Oxalá!
 
Que assim seja, porque assim o é, porque assim o será!

Vovó Maria Rosa

 
 
 
 
“A ingratidão é um dos frutos mais imediatos do egoísmo; revolta sempre os corações honestos.”

Vovó Maria Rosa fumegava seu pito e batia seu pé ao som da curimba enquanto observava o terreiro, onde os cambonos movimentavam-se atendendo aos pretos velhos e aos consulentes.
Mandingueira, acostumada a enfrentar de tudo um pouco nos trabalhos de magia, sabia perfeitamente como o mal agia tentando disseminar o esforço do bem.
Sob variadas formas, as trevas vagavam por ali também.
Alguns em busca de socorro; outros, mal-intencionados, debochavam dos trabalhadores da luz. Muitos chegavam grudados no corpo das pessoas, qual parasitas sugando sua vitalidade.
Outros, por sobre seus ombros, arqueando e causando dores nos hospedeiros, ou amarrados nos tornozelos, arrastavam-se com gemidos de dor. Fora os tantos que eram barrados pela guarda do local, ainda na porta do terreiro e que, lá de fora, esbravejavam palavrões.
Da mesma forma, o movimento dos exus e outros falangeiros se fazia intenso no lado astral do ambiente, para que, dentro do merecimento de cada espírito, pudessem ser encaminhados.
Uma senhora com ares de madame se aproximou da preta velha para receber atendimento. Vinha arrastando uma perna que mantinha enfaixada.
– Saravá, filha – falou Vovó Maria Rosa, enquanto desinfetava o campo magnético da mulher com um galho verde, além de soprar a fumaça do palheiro em direção ao seu abdome, o que fez com que a mulher demonstrasse nojo em sua fisionomia.
Fingindo ignorar, a preta velha, cantarolando, continuou a sua limpeza. Riscando um ponto com sua pemba no chão do terreiro, pediu que a mulher colocasse sobre ele a perna ferida.
“Será que não vai pedir o que tenho?”, pensou a mulher, já arrependida por estar ali naquele lugar desagradável. “Vou sair daqui impregnada por estes cheiros!”
Vovó Maria Rosa sorriu, pois captara o pensamento da mulher, mas preferiu ignorar tudo isso. O que a mulher não sabia era a gravidade real do seu caso, ou seja, aquilo que não aparecia no físico. Se ela pudesse ver o que estava causando a dor e o inchaço na perna, aí sim, certamente ficaria muito enojada. Na contraparte energética, abundavam larvas que se abasteciam da vitalidade do que já era uma enorme ferida e que breve irromperia também no físico.
Além disso, uma entidade espiritual, em quase total deformação, mantinha-se algemada à sua perna, nutrindo, assim, essas larvas astrais. Para qualquer neófito, aquilo mais parecia um cadáver retirado da tumba mortal, inclusive pelo mau cheiro que exalava.
Com a destreza de um mago, a preta velha sabia como desvincular e transmutar toda essa parafernália de energias densas, libertando e socorrendo a entidade escravizada a ela.
Feitos os devidos “curativos” no corpo energético da mulher, Vovó Maria, que à visão dos encarnados não fez mais que um benzimento com ervas e algumas baforadas de palheiro, dirigiu-se agora com voz firme à consulente:
– Preta Velha até aqui ouviu calada o que a filha pensou a respeito do seu trabalho. Agora preciso abrir minhas tramelas e puxar sua orelha.
Ouvindo isso, a mulher afastou-se um pouco da entidade, assustada com a possibilidade de que ela viesse mesmo a lhe puxar a orelha.
“Escutou o que pensei? Ah, essa é boa. Ela está blefando comigo.”, pensou novamente a mulher.
– Se a madame não acredita em nosso trabalho, por que veio aqui buscar ajuda? Filha, não estamos aqui enganando ninguém. Procuramos fazer o que é possível, dentro do merecimento de cada um.
– É que me recomendaram vir me benzer, mas eu não gosto muito dessas coisas...
– ...e só veio porque está desesperada de dor e a medicina não lhe deu alento, não foi filha? – complementou a preta velha.
– Os médicos querem drenar a perna e eu fiquei com medo, pois nos exames não aparece nada, mas a dor estava insuportável.
– Estava? Por quê, a dor já acalmou?
– É, agora acalmou, parece que minha perna está amortecida.
– E está mesmo, eu fiz um curativo.
A mulher, olhando a perna e não vendo curativo nenhum, já estava pronta para emitir um pensamento de desconfiança quando a preta velha interferiu:
– Vá para sua casa, filha, e amanhã bem cedo colha uma rosa do seu jardim, ainda com orvalho, e lave a sua perna com ela, na água corrente. Ao meio-dia o inchaço vai sumir e sua perna estará curada.
Não ousando mais desconfiar, ela agradeceu e já estava saindo quando a preta velha a chamou e disse:
– Não se esqueça de pagar a promessa que fez pra Sinhá Maria, antes dela morrer...
Arregalando os olhos, a mulher quase enfartou e tratou de sair daquele lugar imediatamente.
O cambono, que a tudo assistia calado, não agüentando a curiosidade perguntou que promessa foi essa.
– Meu menino, o que nós escondemos dos homens fica gravado no mundo dos espíritos. Essa filha, herdeira de um carma bastante pesado por ter sido dona de escravos em vida passada e, principalmente, por tê-los ferido a ferro e fogo, imprimindo sua marca na panturrilha dos negros, recebeu nesta encarnação, como sua fiel cozinheira, uma negra chamada Sinhá Maria.
Esse espírito mantinha laços de carinho profundo pela madame desde o tempo da escravidão, quando foi sua “Bá” e, por isso, única poupada de suas maldades. Nessa encarnação, juntaram-se novamente no intuito de que a bondosa negra pudesse despertar na mulher um pouco de humildade, para que esta tivesse a oportunidade de ressarcir os débitos, diante da necessidade que surgiria de auxiliar alguém envolvido na trama cármica.
Sinhá Maria, acometida de deficiência respiratória, antes de desencarnar solicitou à sua patroa que, na sua falta, assistisse seu esposo, que era paraplégico, faltando-lhe as duas pernas.
Deixou para isso todas as suas economias de anos a fio de trabalho e só lhe pediu que mantivesse com isso a alimentação e os medicamentos. Mas na primeira vez que ela foi até a favela onde morava o homem, desistiu da ajuda, pois aquele não era o seu “palco”. Tratou logo de ajustar uma vizinha do barraco, dando-lhe todo o dinheiro que Sinhá havia deixado, com a promessa de cuidar do pobre homem. Não é preciso dizer que rumo tomaram as economias da pobre negra; em pouco tempo, para evitar que ele morresse à míngua, a Assistência Social o internou em asilo público. Lá ele aguarda sua amada para buscá-lo, tirando-o do sofrimento do corpo físico. Nenhuma visita, nenhum cuidado especial. A madame se havia “esquecido” da promessa. Eu só fiz lembrá-la para que não tenha que voltar aqui com as duas pernas inválidas. A Lei só nos cobra o que é de direito, mas ela é infalível. Quanto mais atrasamos o pagamento de nossas dívidas, maiores elas ficam. Por isso, camboninho, negra velha sempre diz para os filhos que a caridade é moeda valiosa que todos possuímos, mas que poucos de nós usam. Se não acordamos sozinhos, na hora exata a vida liga o “desperta-dor” e, às vezes, acordamos assustados com a barulheira que ele faz... eh, eh, eh... Entendeu, meu menino?
– Sim, minha mãe. Lembrei que tenho de visitar meu avô que está no asilo...
Sorrindo e balançando a cabeça a bondosa preta velha falou com seus botões:
– Nega véia matô dois coelhos com uma cajadada só... eh, eh...
E, batendo o pé no chão, fumando seu pito e cantarolando, prosseguiu ela, socorrendo e curando até que, junto aos demais, voltou para as bandas de Aruanda.
 
 
 
 
Infelizmente não consegui achar o ponto riscado dessa Preta velha!
Mas, como eu disse anteriormente, nenhum dos pontos riscados são iguais. Cada um tem o seu!