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quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Poema de Exu (Jorge Amado)

Não sou preto;
branco ou vermelho;
Tenho as cores e formas que quiser;
Não sou diabo nem santo, sou Exu;
Mando e desmando;
Traço e risco;
Faço e desfaço;
Estou e não vou, Tiro e não dou;
Sou Exu;
Passo e cruzo;
Traço, misturo e arrasto o pé;
 Sou reboliço e alegria;
Rodo, tiro e boto;
Jogo e faço fé;
Sou nuvem, vento e poeira;
Quando quero, homem e mulher;
Sou das praias, e da maré;
Ocupo todos os cantos;
Sou menino, avô, maluco até;
Posso ser João, Maria ou José;
Sou o ponto do cruzamento;
 Durmo, acordo e ronco falando;
Corro, grito e pulo;
Faço filho assobiando;
Sou argamassa;
 De sonho carne e areia;
Sou a gente sem bandeira;
O espeto, meu bastão;
 O assento ? O vento;
 Sou do mundo, nem do campo;
 Nem da cidade; Não tenho idade;
Recebo e respondo pelas pontas;
Pelos chifres da nação;
Sou Exu;
Sou agito, vida, ação;
Sou os cornos da lua nova;
A barriga da rua cheia;
Quer mais ? Não dou;
 Não estou mais aqui!

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